Hoje é comemorado o dia dos nossos amados Pretos-Velhos e nossas amadas Pretas-Velhas e eis que acabei recebendo por e-mail, um texto lindíssimo que quero compartilhar com vocês, esse é um daqueles poucos textos em que conseguem me arrancar lágrimas sofridas dos olhos e que despertam em meu coração aquela saudades inexplicável de coisas que "nunca" vi ou fiz.. esse texto em particular me trouxe à tona aquela sensação de perda, aquela agonia de algo que já se foi, algo que ao mesmo tempo em que está ao alcance de suas mãos, também se encontra longe, perdido no infinito.. mas também me trouxe paz, esperança e conforto...
Recebi pela newsletter do irmão de fé Alexandre Cumino, com a autoria de Fernando Sepe.
Agora repasso a todos vocês.. boa leitura.
A História do Velho Meji
Por Fernando Sepe
“Quando a alma queima de amor e
o ser eleva-se além das estrelas;
Quando o espírito liberta-se da ilusão
e os olhos contemplam a Unidade;
Quando o eu desaparece no
turbilhão do divino;
Finalmente o toque da Luz...”
Era tarde, o céu já estava tingindo com a cor que antecede o anoitecer. O Sol, tímido, escondia-se na linha do horizonte. A tudo eu contemplava, pensando no milagre da natureza. Logo chegaria a noite e a luz das estrelas beijaria a face da terra. Romance que acontece desde o prelúdio dos tempos e que inspira os amantes com sua beleza. Sim, aqueles olhos terrenos tão cansados, mas que no meio das tristezas, aprendeu a ver a verdade do milagre...
De repente uma pontada no peito. Coração de nêgo já não era forte para a matéria, estava cansado de trabalhar. Mas para o espírito, era ele a grande riqueza. Lá estavam as cicatrizes que nos fazem corajosos como o jasmim. Os tesouros do amor e da amizade, as belezas da vida. Coração, tão maltratado pela humanidade. Coração, altar da imortalidade...
A vida passa rápido. Naquele instante, como um raio que corta o firmamento. Toda ela, dançando a frente dos meus olhos. Senti saudade dos sorrisos. Das lágrimas o calor. E assim, entre o choro e a alegria, o espírito desabrochou...
O corpo tombou, sedento por voltar a terra... O espírito voou, como um pássaro celeste... Homens e mulheres choraram a ilusão da morte... Mas a natureza, essa cantou a melodia da vida...
Minha alma tocava o céu em êxtase. A existência descortinava-se para mim, pois agora o grilhão do corpo estava rompido. E a morte, o mergulho do corpo em direção a Mãe Terra, estava longe. Na consciência tudo vive...
E eu vivia! A chama da vida ardia em meu peito espiritual como nunca. E nesse contentamento, nessa bem-aventurança incrível, dancei. Dancei e rodei como tantas vezes fiz. A sagrada dança dos Orixás, gestos que simbolizam as forças da Criação...
E tanto dancei, que me esqueci do velho negro Meji. Esqueci de tudo inclusive. Simplesmente esqueci...
E nesse esquecimento alguém disse:
“Aquele que busca a Luz, que morra mesmo depois de morrer...”
E foi ali, perdido no vazio, esquecido, que a gota de orvalho finalmente voltou ao oceano.
Ah, o Orun! A terra querida dos Orixás... Tanto busquei Iansã nos raios, mas neles encontrei apenas o seu olhar... Oxalá nas nuvens, mas nelas apenas o seu semblante... Iemanjá em cada gota d’ água, e o que encontrei foi uma pequena pérola de seu colar...
Finalmente, na morte depois da morte, a eles eu realmente me devotei. Girando em volta do axé plantado no meu coração. Dançando de frente para o verdadeiro congá. Apenas aqui eu realmente os encontrei. Aqui eles sempre estiveram. O coração é o maior ilê, o maior dos congás. Não existe mistério maior que esse. Não pode existir. Mas, mesmo que você saiba disso, só morrendo para entender...
- “ Meji, quem é você? Um negro escravo? Um velho sacerdote? _ a voz da Existência lhe perguntou.
- Meji? Sacerdote? Negro? Não. Essa não é a verdadeira natureza do EU...
- Mas então QUEM É VOCÊ?”
E nada mais se sabe a respeito do velho Meji. A lenda conta que sua boca não respondeu, mas sua alma inflamou e ele queimou de amor. Morreu novamente. Foi, enfim, viver a realidade de Oxalá, seu querido Pai. No seio do grande babá, finalmente se encontrou...
Essa história ainda pode ser ouvida quando as estrelas surgem no céu. Dizem que o velho Meji é uma delas, brilhando serena no firmamento. Iluminando e velando os terreiros. É hoje uma das muitas jóias que ornam o Ori do velho e querido papai Oxalá...
Êpa Babá!
Pai Antônio de Aruanda 15/02/07
“És uma gota de meu oceano:
cheia de pérolas, a concha da alma.”
Jalal ud-Din Rumi -
A Sombra do Amado
contatos: fesepe@yahoo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Pode comentar.. pegue uma cadeira e sinta-se em casa..
Obrigada pela visita :)