terça-feira, 4 de outubro de 2011

Cálice

Meu pai costumava me dizer, que nessa música "Cálice" do Chico Buarque, o cálice se transformava em cale-se!!

E eu, ao ouvir e me lembrar disso, me calo..
Calo minhas dores, calo meu pranto, calo meu amores, calo meus encantos..
Calo enfim tudo e calada assim saio para o mundo...
Preciso ouvir o som do silêncio, preciso de uma nova crisálida, preciso de adaptação para as novas situações que se apresentam em minha vida. 

E nisso eu paro e calada observo, analiso, estudo..

Engole Juliana, engole o choro.. engole a ira.. engole a revolta.. engole a tristeza.. engole o desespero... engole a dor... engole o amor... engole a alegria.. engole a esperança... engole a aceitação...
Empurre goela abaixo.. engula todos os sentimentos antes que seja engolida por eles..

Cabeça no lugar agora e o coração em modo "off", razão e não emoção.
Espere o mundo completar mais uma volta, seja água.. agora é o momento de ser água.. e quando chegar a hora certa.. afasta de mim esse "cale-se" pai... para que eu possa falar e quando eu falar que eu possa ser ouvida!


Cálice - Chico Buarque

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça

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